A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS), também conhecida por Apneia do Sono, é um distúrbio respiratório do sono comum e frequentemente não reconhecido.
A SAOS é uma doença respiratória provocada por colapsos intermitentes e repetidos das vias aéreas superiores, durante o sono, que resulta numa respiração irregular e micro-despertares frequentes durante a noite que, na maior parte das vezes, os doentes estão conscientes destes pequenos despertares. Estas situações provocam pausas respiratórias (apneias) durante o sono, com uma duração superior a 10 segundos e que se podem repetir várias vezes durante o sono. Essas pausas originam uma diminuição parcial da quantidade de oxigénio no sangue e também aumentam a quantidade de dióxido de carbono no sangue. Estas alterações dos gases no sangue provocam os micro-despertares, sendo estes uma espécie de “alerta” fisiológico para despertar e corrigir a respiração. Estes micro-despertares frequentes fragmentam o sono e como consequência, os doentes sentem-se com sono durante o dia (sonolência diurna excessiva).
É um distúrbio respiratório grave, dado que a sonolência diurna excessiva, influência a capacidade de raciocínio e de avaliação, aumentando o risco de acidentes de viação e de trabalho.
A prevalência da SAOS é estimada em 2% nos homens e 4% nas mulheres (meia-idade)1 e tem aumentado nos últimos anos2.
Durante o sono os sintomas mais frequentes são: ressonar, sono agitado, excesso de transpiração, despertares com sensação de sufoco ou engasgamento e idas frequentes à casa de banho para urinar.
Durante o dia os sintomas são: acordar cansado, com a sensação de um sono não reparador; sonolência diurna excessiva; ansiedade, depressão e alterações de humor; alterações cognitivas, como por exemplo, falta de memória ou de concentração. Alguns doentes podem queixar-se de dores de cabeça matinais.
A Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono está relacionada com outras patologias, nomeadamente:
Depressão
É frequente a presença de sintomas de depressão em doentes com SAOS e o tratamento com pressão positiva contínua na via aérea (CPAP) aparenta melhorar os sintomas de depressão3. A prevalência de sintomas de depressão pode variar entre 21% e 41%.4
Obesidade
O excesso de peso e a obesidade são factores de risco importantes para a SAOS. Um estudo publicado em 2000 analisou a associação entre a SAOS e a obesidade, ao longo de um período de 4 anos em 690 homens e mulheres. Nestes 4 anos o peso médio aumentou de 85 para 88 kg e o índice de apneia e hipopneia (IAH) 4.1 para 5.5 eventos/hora. Nesta população em estudo, um aumento de peso de 10% aumentou 6 vezes mais a probabilidade de desenvolver SAOS moderada/grave, relativamente a pessoas com um peso estável5.
Doenças cardiovasculares
A apneia obstrutiva do sono aumenta o risco de hipertensão arterial (HTA), que por sua vez aumenta o risco de incidência de enfarte agudo do miocárdio (EAM) ou acidente vascular cerebral (AVC).
A redução dos níveis noturnos de oxigénio no sangue, causada pela apneia do sono, pode levar a um aumento do risco de doenças cardiovasculares, como hipertensão arterial, enfarte e arritmias, e tem sido apontada como responsável pelo aumento da mortalidade observada nestes doentes.
Num estudo realizado na consulta de Patologia do Sono no Centro Hospitalar Lisboa Norte, verificou-se que, em 350 doentes com síndrome da apneia do sono, 60% apresentavam hipertensão arterial, 12% sofriam de enfarte e 11% de arritmias.6
O tratamento com CPAP em doentes com HTA, demonstrou reduzir a pressão diastólica e uma melhoria do padrão nocturno da pressão arterial (padrão dipper), que consiste numa diminuição da pressão arterial média durante o período do sono.7
Disfunção eréctil
Um estudo realizado pelo Laboratório do Sono do Hospital de S. João mostrou que mais de metade (64,4%) dos doentes com apneia do sono sofre de disfunção eréctil.8
A associação entre a SAOS e a disfunção eréctil, está relacionada com os efeitos negativos das saturações baixas e a fragmentação do sono. A cada ciclo do sono mais profundo, denominado estadio REM, e que corresponde a 20% do sono normal, o homem evidencia uma ereção funcional, a par da produção de testosterona que é fundamental para a manutenção da integridade do tecido eréctil. Devido à fragmentação do sono e consequente redução da produção de testosterona, resultando numa diminuição da libido e da ereção. Paralelamente, existem modificações na regulação hormonal, vascular e nervosa que favorecem o aparecimento da disfunção eréctil.
Nem todas as notícias são más e existem estudos que comprovam que cerca de 75% dos pacientes com SAOS e disfunção eréctil tratados através do uso regular e continuado de ventilação durante o sono, o tratamento de primeira linha na apneia (CPAP) evidenciaram remissão, após apenas um mês de tratamento.9
Existe também um impacto significativo em termos de saúde pública, sobretudo devido à relação da SAOS com acidentes de viação e laborais, como consequência da sonolência diurna excessiva.10
1 – Young T, et al. N Engl J Med. 1993 Apr 29;328(17):1230-5.
2 – Pepperd PE, et al. Am J Epidemiol. 2013 May 1;177(9):1006-14.
3 – AKASHIBA, T et al. Relationship between quality of life and mood or depression in patients with severe obstructive sleep apnea syndrome. Chest Journal, 2002, 122.3: 861-865.
4 – HARRIS, M et al. Obstructive sleep apnea and depression. Sleep medicine reviews, 2009, 13.6: 437-444.
5 – Peppard PE et al, Longitudinal Study of Moderate Weight Change and Sleep-Disordered Breathing. JAMA. 2000;284(23):3015-3021.
6 – Boléo-Tomé, José Pedro, et al. Prevalência de doença cardiovascular numa população de doentes com síndrome de apneia obstrutiva do sono. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar 24.3 (2008): 355-61.
7 – Martínez-García, Miguel-Angel, et al. Effect of CPAP on blood pressure in patients with obstructive sleep apnea and resistant hypertension: the HIPARCO randomized clinical trial. Jama 310.22 (2013): 2407-2415.
8 – Santos, T., M. Drummond, and F. Botelho. Erectile dysfunction in obstructive sleep apnea syndrome—prevalence and determinants. Revista Portuguesa de Pneumologia (English Edition) 18.2 (2012): 64-71.
9 – Goncalves, M. A., et al. Erectile dysfunction, obstructive sleep apnea syndrome and nasal CPAP treatment. Sleep medicine 6.4 (2005): 333-339.
10 – Tregear, Stephen, et al. Obstructive sleep apnea and risk of motor vehicle crash: systematic review and meta-analysis. Journal of clinical sleep medicine: JCSM: official publication of the American Academy of Sleep Medicine 5.6 (2009): 573.